quinta-feira, 12 de agosto de 2010

"Síndrome do Bumbum Sarado" (Síndrome do Piriforme)

Por Bianca Trentine.

As lesões esportivas são comuns e específicas de acordo com a natureza do esporte. A corrida, por exemplo, o toque repetido do pé no solo transfere as forças mecânicas dos membros inferiores até a coluna. E se algo não está harmônico neste “caminho das forças”, as lesões podem aparecer com mais freqüência.

Quando falamos em lesões pensamos logo nas que são causadas pelo esporte ou atividade física. Porém, também existem lesões que são decorrentes de nossas atividades do dia-a-dia ou pela junção de maus hábitos posturais e esporte.
 
É o caso da Síndrome do Piriforme, que é uma patologia que pode acontecer por associação de fatores presentes no nosso dia-a-dia e também na prática esportiva. Estou na área há 10 anos e nunca tinha ouvido falar neste termo, até acontecer comigo e precisar me afastar várias vezes de minhas atividades por causa de uma dor constante no glúteos.

Mulheres que exercitam excessivamente os glúteos em busca de um bumbum perfeito estão mais sujeitas a apresentar esta patologia que é “pouco comum, mas que tem uma incidência aumentada em mulheres entre 20 e 50 anos que malham com muita intensidade os músculos da região das nádegas e coxas”, segundo o Dr. Ricon Jr, diretor do Centro Ortopédico de Ipanema, especialista em quadril.

A Síndrome do Piriforme é o resultado do encarceramento do nervo isquiático, ou ciático, como é mais conhecido, pelo músculo piriforme, na sua saída da pelve para a região glútea. “O piriforme é um músculo em forma de pêra que se situa na região do quadril.

Quando cresce muito, ou seja, é hipertrofiado, o piriforme comprime e inflama o nervo ciático, o que provoca muitas dores e complicações. Em academias, deve haver muitas mulheres que sofrem da doença sem saber. Elas só se dão conta quando o problema se agrava”, diz Ricon.

Para conquistar um contorno bem-acabado, muitas brasileiras fazem o possível, e mais um pouco: fortunas em cremes milagrosos, dolorosas injeções, massagens das mais intermináveis opções – sem contar as toneladas de peso erguidas nas academias numa coleção de posições um tanto quanto “desconfortáveis” e para algumas mulheres até constrangedoras.

Mesmo orientando e chamando a atenção sobre o exagero nos exercícios, sempre tem aluna que desobedece, principalmente se tratando do glúteos. Neste caso estou direcionando o assunto para esta região, mais o excesso de exercícios e cargas parte em sua maioria dos homens.


Na verdade, livrar-se do acúmulo de gordura no bumbum não é nada fácil, e empiná-lo de uma hora para outra é impossível. Essa parte do corpo é a segunda maior vítima da lei da gravidade na anatomia feminina, precedida apenas pelos seios – sendo que esses levam a vantagem de poder ser corrigidos por sutiãs turbinados ou, mais drasticamente, pela cirurgia plástica. Já o implante de silicone nos glúteos, recurso mais comum, tem um pós-operatório dolorido e não funciona bem na maioria das pacientes.

Restam a musculação e a ginástica localizada, ambas exercitadas em posições não naturais, justamente porque têm de trabalhar uma musculatura pouco solicitada no dia-a-dia. Se bem-feitas, funcionam, mas o risco de lesões é alto.
Mas não vá achando que é uma patologia só de mulheres que treinam o glúteos pesado, veja outras situações que podem causar a Síndrome do Piriforme.
  • Muitos ciclistas (isso inclui os praticantes de spinning), triatletas e corredores apresentam esse tipo de patologia porque o Músculo Piriforme encontra-se encurtado levando a uma compressão do nervo. A posição na bicicleta e o tipo de corrida (ex.: treinos de subida) são alguns dos fatores.
  • Também pode ser causada por trauma no local (cair sentado, por exemplo), hiperlordose (nas grávidas principalmente), e hábitos posturais não saudáveis (como ficar muito tempo sentado e dormir em posição fetal). Manter a postura sentada por longos períodos, principalmente com a coxa em rotação externa (como ao dirigir) diminui o aporte sanguíneo para a região do músculo e altera a fisiologia do piriforme (e dos músculos próximos a ele também) e provoca encurtamento muscular, a falta de alongamento irá contribuir para que a musculatura envolvida fique ainda mais tensa e piore os sintomas.
  • No caso de pronação excessiva, o membro inferior sofre uma rotação excessiva, o que sobrecarrega a tíbia, joelho, quadril e coluna. Por isso é importante a utilização de calçados adequados para o tipo de pisada.
  • Quem anda e principalmente corre com a ponta do pé muito aberta, para fora (tipo dez para as duas) tem mais chances de inflamar o piriforme, pois fica o tempo todo estimulando o músculo na sua função, que é rodar a coxa para fora juntamente com o pé quando o joelho está esticado.
  • O aumento rápido na intensidade ou duração dos treinos pode contribuir para o aparecimento da síndrome por sobrecarga do piriforme. Traumas diretos podem provocar edema na região do piriforme ou causar uma tensão e conseqüente compressão e irritação do nervo ciático.
  • Um desequilíbrio muscular entre os rotadores internos e externos do quadril, como no caso de rotadores externos mais fortes que os internos, contribuem para encurtar o piriforme, além de desequilíbrios da pelve. Os distúrbios na biomecânica dos membros inferiores e coluna, incluindo distúrbios na marcha, vícios (maus hábitos) e alterações posturais também podem causar a síndrome.
A “Síndrome do Bumbum Sarado” ainda é muito mal diagnosticada e sua prevalência, de acordo com o ortopedista Ricon Jr., deve estar subestimada. “Muitas pessoas e mesmo médicos confundem a Síndrome do Piriforme com outros problemas do quadril”, afirma. O diagnóstico deve ser feito por intermédio de exames clínicos, associados, dependendo do caso, a exames complementares como ressonância magnética, ultra-sonografia, radiografia e eletroneuromiografia. A doença costuma ser confundida com bursite, lombalgia, tendinite dos flexores da coxa e ciatalgia.
Estudos americanos mostram que 2,5% das lesões relatadas por praticantes de esportes são na região dos quadris. Em atletas, o número pode subir para 9%. Algumas são leves e de fácil recuperação. Em outras, a cura pode demorar meses, como na síndrome do piriforme. Nas academias, recomenda-se não abusar das repetições e alongar os glúteos antes e depois das atividades.
A busca por glúteos perfeitos tem de ter limites, a real é que as pessoas estão esquecendo a verdadeira essência da atividade física, deixando que padrões impostos pela sociedade interfiram até em suas funções motoras por exemplo. Ouço cada coisa pelas academias por ai. Já ouvi até “travada mais sarada”. Só quero ver se travar de vez… Por mais atraente que seja a perspectiva de um bumbum em forma, exagerar na carga pode render semanas sem exercício algum.
Segundo Ricon, os sinais clínicos mais comuns da Síndrome são: dores nas nádegas próximas ao fêmur quando caminha e se interrompe a caminhada de repente; dores provocadas por movimentos simples como se levantar e se sentar; dores ao se esticarem as pernas na posição deitada; dores ao se praticar uma atividade física mais intensa; e atrofia glútea, dependendo da duração dos sintomas. “As dores podem aumentar até chegar ao ponto de incomodarem durante o sono, mesmo com a pessoa deitada, em repouso”.
Como tratar:
O tratamento da Síndrome do Piriforme inclui analgésicos, antiinflamatórios, injeção local de anestésicos e corticóides, injeção de botox, massagem transretal, acupuntura(que tem como principio aumentar as endorfinas fisiológicas do nosso corpo para que possamos tolerar um nível maior de dor), aparelhos como ultra-som e TENS para o alívio da dor e formigamento/dormência e para remover metabólitos e tecido cicatricial (evita fibrose), além de acelerar a resolução da lesão.
A aplicação de gelo deverá ser feita para diminuir a dor, pois o gelo tem efeito analgésico e antiinflamatório. Pode ser feito da seguinte forma: coloque várias pedras de gelo num saco plástico e amarre. Coloque este saco dentro de um tecido fino e úmido e coloque na região glútea, mantendo por 20 minutos. Repetir 3 vezes por dia e não tomar banho logo após a aplicação, para não interromper o efeito do gelo.
Os exercícios devem ser iniciados assim que houver algum alívio da dor, de acordo com o quadro apresentado pelo paciente. Os alongamentos devem ser feitos no início de forma leve e os fortalecimentos devem ser introduzidos gradualmente.
Todos os músculos envolvidos, além do piriforme, devem ser alongados e fortalecidos para que funcionem em harmonia sem causar nenhum transtorno ao atleta no futuro.
O retorno ao esporte deve ser um processo gradual. O tempo de retorno dependerá da extensão da lesão e do nível de atividade praticada.
“Infelizmente, a Síndrome do Piriforme não costuma ser tratada adequadamente devido às dificuldades de diagnóstico. Com o crescimento vertiginoso do número de praticantes de esportes e de exercícios e com o “culto do bumbum perfeito”, muito forte em nossa cultura, a doença tende a atingir um número cada vez maior de mulheres”. Ricon.
Veja algumas dicas de prevenção
Pratique suas atividades com moderação, tudo em excesso vai te prejudicar de alguma forma. Seu corpo tem um limite e ele deve ser respeitado. Sobrecarga correta, recuperação correta, alimentação correta. Tudo sob controle, isso é o ideal para tudo e para todos. CONTROLE.
  • Não exagere na carga de exercícios para os glúteos;
  • Alongue os glúteos freqüentemente;
  • Mulheres que não têm os glúteos e nádegas naturalmente desenvolvidas estão mais propensas, pois irão aumentar muito de volume a musculatura podendo levar à compressão do nervo ciático;
  • Nos exercícios com quatro apoios, contraia o abdômen e não force a coluna ao elevar a perna;
  • Ficar sentada o dia inteiro e malhar muito aumenta as chances de se desenvolver a Síndrome;
  • As próteses de silicone podem teoricamente facilitar o aparecimento da Síndrome, pois são colocadas por sob os glúteos;
  • Fique atenta caso sofra uma queda sentada sobre a nádega que deixe um hematoma na região glútea. Este deve ser muito bem cuidado para não deixar seqüelas, pois pode levar à Síndrome do Piriforme.
  • Procure um especialista em quadril em caso de dor que persista por mais de três semanas;
Fontes: www.corpoemfoco.com.br
www.atual.wordpress.com
www.veja.abril.com.br
www.clinicadoquadril.com.br
www.TotalSport.com.br
Alessandra Arkie e Kenia Guerra Baumann (fisio-rpg@uol.com.br)
The Sports Physical Therapy Institute Medicine

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